Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
(Fala do Velho do Restelo aos Astronautas In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)
JOSÉ SARAMAGO (Portugal, 1922 - 2010)
Um comentário:
Esses poemas são um luxo,uma nobreza para ser mais exata.
Parabéns pelo bom gosto.
Amei a sua visita.
Seja bem vindo a 2011 meu querido.
Veja bem,eu ñ comi o pudim justamente por saber o intinerário que a maizena seguiu rs
Beijokas.
Postar um comentário