Em julho de 2015, 85 anos depois da descoberta do nono e último
planeta orbitando o Sol, a humanidade pela primeira vez pôde ver Plutão de
perto.
Em 14 de julho, a New Horizons chegou a 12.500 km de Plutão,
a menor distância que qualquer objeto humano alcançou até hoje. E revelou mais
do que a missão esperava encontrar, a começar pelas paisagens fantásticas com
tons avermelhados, em vez de apenas o gélido cinza.
Com o tamanho de um pequeno piano de cauda, a sonda New
Horizons, da Nasa, aproximava-se de seu destino depois de uma viagem de nove
anos e 5 bilhões de quilômetros. Singrando o espaço a 50 mil km/h, a sonda
enviou para a Terra imagens espetaculares e repletas de detalhes.
A sonda já transformou o conhecimento da ciência sobre Plutão
e a região conhecida como Sistema Solar Exterior, localizada após o cinturão de
asteróides entre Marte e Júpiter. Os recantos mais remotos poderão ajudar os
cientistas a encontrar mais pistas de como o Sistema Solar se formou.
Ainda no início da década de 90, astrônomos começaram a
desconfiar de que Plutão não estava sozinho. E descobriram que o Sistema Solar
Exterior estava repleto de um "enxame" de pequenos objetos
congelados, que foi batizado de Cinturão de Kuiper, uma espécie de anel gelado
além da órbita de Netuno.
Em 2005, foi encontrado Eris. Um objeto maior que Plutão e
que desafiou seu status de planeta. Plutão, então, poderia ser apenas mais um
elemento do Cinturão de Kuiper, e não parte do grupo principal de planetas. Depois
de intenso debate, Plutão foi rebaixado, no ano seguinte, à categoria de
planeta-anão.
Houve quem lamentasse o rebaixamento, mas a nova classificação
foi resultado de um entendimento mais profundo do Sistema Solar Exterior. Em
vez de um mundo isolado e na periferia, Plutão passou a ser considerado como o
começo de algo novo: um exemplar de uma possível coleção de novos mundos.
Essa visão já tinha entusiasmado a Nasa mesmo antes da decisão
de rebaixar Plutão, por sinal, já que a New Horizons foi lançada em janeiro de 2006.
Plutão fica longe, muito longe. Enquanto a luz solar demora
apenas oito minutos para chegar à Terra, a viagem para Plutão é de mais de
cinco horas. E mesmo assim pouca luz chega até lá: o Sol tem brilho 1.500 vezes
menor do que o visto do nosso planeta. Isso faz com que Plutão também seja
muito frio: a temperatura média é de 230 graus negativos. Uma superfície tão frígida
deveria ser congelada e dormente.
Astrônomos, porém, já sabiam que a superfície de Plutão
tinha algum tipo de atividade. O planeta-anão tem variações violentas de
temperatura, causando mudanças em sua superfície e sua fina atmosfera.
Mas a New Horizons encontrou uma superfície que superava
tudo o que se havia imaginado. Grande parte daquele formato de coração que se
destaca nas famosas fotos de Plutão é na verdade uma grande geleira, a maior do
Sistema Solar - formada por uma vasta quantidade de nitrogênio congelado.
Além disso, os cientistas agora suspeitam que duas das mais
altas montanhas do planeta-anão, os Montes Wright e Piccard, podem até ser vulcânicas,
cuspindo formas congeladas de água, metano, nitrogênio e outros.
Diferentemente de outros vulcões gelados do Sistema Solar,
como os encontrados em Ganimedes (uma das luas de Júpiter) e na lua saturnina
de Enceladus, os vulcões de Plutão são verdadeiras formações montanhosas e mais
parecidos com os da Terra. Só que Plutão tem pelo menos uma semelhança
intrigante com as luas mencionadas anteriormente: possui um oceano debaixo de
sua camada gelada.
A teoria é que, pouco depois de Plutão ter sido formado,
elementos radioativos em seu núcleo podem ter derretido um pouco do gelo em
volta.
Essa água deveria ter congelado de novo, mas análises feitas
por computador sugerem que deveria ter formado um tipo de gelo mais denso e "encolhido"
o planeta, deixando como rastros falhas geológicas na superfície. Só que a New
Horizons não encontrou nenhum sinal delas.
Muito da evidência ainda é circunstancial. Para ter certeza
sobre o oceano, por exemplo, será preciso enviar outra espaçonave a Plutão para
estudar do alto o interior do planeta-anão, algo que não deverá acontecer tão
cedo. Mas a possibilidade de existência desse oceano sugere ainda que outros
objetos do Cinturão de Kuiper também possam tê-los. E isso dará muito mais
pistas sobre a formação do Sistema Solar quando novas missões, como a do Grande
Telescópio Sinótico, previsto para entrar em operação em 2023, começarem a
explorar outras regiões de Kuiper.
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