A VIAGEM DEFINITIVA

Quando éramos crianças, diziam os adultos simplesmente pra nos assustar que os mortos, no seu dia, saíam do túmulo, vestidos de branco e saíam a passear.Isso nos criava um pavor terrível de noite... Quando penso na morte, me lembro de um pequeno poema que está no final do livro Journey to Ixtlan( Viagem a Ixtlan) do Carlos Castanheda. O poema é do espanhol( ou será mexicano?) Juan Ramon Jimenez e se chama El Viaje Definitivo( A Viajem Definitiva).



A VIAGEM DEFINITIVA
Juan Ramón Jimenez
Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.

Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do companário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore

Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.

Um comentário:

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, Bernardo:

Lindo e triste; é a nossa marcha rumo ao desconhecido, aliás a única coisa certa nesse mundo. Por isso temos de ficar presumindo o que acontecerá ao partirmos; o homem não agüenta ficar sem respostas para os mistérios e indagações da vida. Queremos certeza, não? Gostaríamos.

Se até hoje não sabemos de onde viemos, muito menos para onde iremos. Difícil.
Bj
Tais luso