COP 16 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS - QUANTO O MUNDO AINDA AGUENTA ESPERAR???

Texto de Silvia Ribeiro
Há uma semana, representantes de governos de todo o mundo estão reunidos em um bunker de super luxo chamado Moon Palace (Palácio da Lua), supostamente para discutir as mudanças climáticas.

O lugar é longe dos hotéis e mais longe da cidade de Cancun o que, somado às abundantes barreiras policiais, significa investir de duas a três horas diárias em poucos quilômetros de ida e volta. Exceto para os delegados dos países ricos que, como se fosse outra forma de mostrar a injustiça climática, se alojam no Moon Palace a preços exorbitantes.
A maioria dos delegados da África, Ásia e América Latina estão em hotéis fora do complexo lunático e necessitam de horas para deslocar-se. Além de deixar os delegados do Sul esgotados, parece ser uma tentativa de evitar que cheguem à conferência os protesto do povo, vítima da mudança climática.
Milhares de ativistas e afetados pela crise climática, social e ambiental de todo o mundo chegaram a Cancun em seis caravanas, saídas de vários pontos do México, atravessando o país desde suas raízes, para conhecer e mostrar a verdadeira política ambiental do país, suas causas e a relação com a crise climática aqui e em outras partes do mundo.
Os testemunhos locais convergiram com os dos ativistas, camponeses e indígenas, irmãos de lutas de base nos Estados Unidos, Europa, América do Sul, América Central e Índia.
Partiram de San Luis Potosí, Acapulco, Guadalajara, Oaxaca, Chiapas, convocados pela Vía Campesina, Assembléia Nacional de Afetados Ambientais, Sindicato Mexicano de Eletricistas (SME) e Movimento de Libertação Nacional, aos que se somaram redes de justiça climática das Américas e da Europa, a rede Oilwatch e outras. As três primeiras caravanas convergiram na Cidade do México, onde realizaram um Fórum Internacional no auditório do SME, com mais de mil participantes e uma marcha no centro da cidade.
As caravanas pararam em vários pontos, onde ativistas e organizações locais os receberam com grande entusiasmo e solidariedade para compartilhar suas lutas e para somar-se. Expuseram, entre muitos outros, os casos de rios com enorme contaminação industrial, agrícola e urbana como o Rio Santiago em El Salto, Jalisco, onde uma criança morreu simplesmente por cair nele.
Apresentaram também projetos mineiros em San Luis, Guerrero, Oaxaca, Chiapas, que se fazem em todos os lugares devastando territórios contra a vontade das comunidades e pela ganância das transnacionais; projetos de megarepresas como Zapotillo e La Parota, que apesar da contínua oposição comunitária, o governo insiste em impor; zonas de altíssima contaminação de solos, ar e águas que provocam altas taxas de enfermidades, câncer e deformações genéticas nos moradores vizinhos,
Denunciaram os enormes lixões em Morelos, Tlaxcala, Edomex e Cidade do México, as megagranjas industriais, como as Granjas Carroll em Veracruz e Puebla, onde se originou a epidemia de gripe aviária e outras se gestam; contaminação petroleira e industrial, derrubada de bosques e sua substituição por grandes monocultivos e plantações para agrocombustíveis em vários estados; contaminação transgênica do milho nativo…
A devastação ambiental e social é enorme e mostra a verdadeira política “ambiental” no México, muito distinta das fotos que se mostram em Cancún.

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