” DONALD JOHANSON, paleoantropologo, descobridor da australopithecus Lucy. |
“Idade? Vivo aqui e agora. Lucy também vivia assim. Cresci
em Connecticut, onde um antropólogo judeu, fugido de Hitler, me fez descobrir o
antepassado do homem. Nosso cérebro ainda é caçador e coletor, por isso viver
fechados nos causa angustia.
Ainda escuta os Beatles?
Me encantam. E muitas vezes também me coloquei como Lucy no
céu entre diamantes. A musica tocava dia e noite no acampamento onde
descobrimos a Australopithecus, em Afar, Etiópia.
Como vivia Lucy?
Supomos que não tinha mais que 13 anos quando morreu. Suas
condições de vida não eram nada invejáveis, mas gostaria de esquecer o passado
– é irremediável – e o futuro – é imprevisível – sem temer a morte – é
irremediável e imprevisível – para apreciar o aqui e agora, o presente é tudo
que realmente temos. É o kit imprescindível para que nós, sapiens, entendamos
que nossas vidas valem a pena. E não creia que é fácil.
Por que?
Porque nosso cérebro e nosso corpo ainda evolui a um ritmo
glacial, como descreveu Darwin, muito lentamente...
Mas nossa tecnologia vai muito depressa.
Sim, a evolução cultural humana avançou mais nos últimos cem
anos do que em 3 milhões de anos que se passaram desde o período em que Lucy
viveu, e continua acelerando.
O progresso causa um desajuste?
Isso causa um alvoroço entre a evolução genética de nossos
cérebros e nossos corpos e a evolução cultural que criamos. Estamos
impressionados com a aceleração tecnológica que nos separa do ambiente e do
tempo e nos causam problemas.
A tecnologia não é obrigatória?
Uma vez que se consegue um avanço tecnológico, é impossível
abandoná-lo, como aconteceu com a agricultura, que empobreceu a vida dos
humanos – é só olhar os fósseis – mas não havia retorno.
Agricultura e cidades tem apenas 12.000 anos de existência,
por isso nosso cérebro ainda é nômade, caçador e coletor e não teve tempo para
adaptar-se ao trabalho trancado, obedecendo a rotinas.
Nossos corpos foram criados para a vida ao ar livre, mas nos
encerramos entre paredes lamentando o passado perdido e temendo o futuro.
Assim, quando tiveres problemas na vida, de um passeio pelo
bosque e seu cérebro se conectará com o entorno e num instante, como o primata
que ainda está em você, verá como ficaram distantes os problemas de seu
trabalho.
Qual a principal mensagem que Lucy te transmitiu?
Foram dúvidas. Não sabemos porque se interrompeu a cadeia
evolutiva entre nós e os australopitecos. Parece que uma grande mudança climática
os exterminou. Eles eram um ponto de ramificação em nossa evolução.
Mal Presságio?
Temo que nossa espécie, que já perdeu muito de sua conexão
com a natureza, acabe como os dinossauros, depois de destruir o planeta.
Nós somos primatas e, portanto gregários. Há muitos poucos
lideres e muitas vezes o são apenas pelas circunstâncias. Cabe aos cientistas
mais lúcidos agir agora, explicando a ciência para melhor conhecermos nosso
planeta para que possamos amá-lo, porque não destruiremos o que amamos.
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