Ele gosta de brincar com os outros cachorros, puxar as roupas limpas do varal, seguir as pessoas de perto pela trilha que leva ao igarapé e farejar as calças dos mais distraídos, atrás de guloseimas. É um animal de estimação, como qualquer outro. Poderia até ser um cachorro, mas não é. É um porco do mato, um Caititu de quase um ano de idade, o Nêgo.
Ele é um dos “pets” da aldeia Sawré Muybu, categoria que
também inclui dezenas de cachorros, macacos, pacas, jabutis, papagaios e até um
esquilo.
Os indígenas Munduruku tem o costume de criar animais
selvagens que ficaram órfãos ou que se afeiçoam à vida na aldeia, e eles tem um
lugar especial na casa e nas famílias.
Quando o sol não está tão quente é comum ver Rizela correndo livre com Guaxu, o macaco que está quase sempre em sua cabeça e é seu fiel escudeiro |
Os animais vivem soltos, mas são muito apegados a seus donos.
O macaco Caquinho, por exemplo, não desgruda das mechas de cabelo de sua dona,
Rizela. Ele é um Zog Zog e anda sobre a cabeça da menina para onde quer que ela
vá.
Como todo animal selvagem, apesar de dóceis, eles não podem
ser adestrados. Quando querem, somem pelo mato ou para as copas das árvores e
de lá só retornam quando bem entendem. No entanto, a conexão que criam é forte
e, por isso, sempre retornam.
É como dizem, quando se ama, deve-se deixar livre.
Rizela Munduruku, entre um mergulho e outro no igarapé, sorri e diz: “ei, pariwati (branco, na língua Munduruku), olha só, eu vou pular”. Assim que cai na água, ela sai nadando até onde as mulheres estão lavando roupa e logo que levanta, começa a se banhar com as outras crianças.
É um banho quase brincadeira. Rizela passa sabonete no corpo inteiro e nos cabelos e para se enxaguar entra novamente na água, fica completamente submersa e sai batendo as pernas, deixando um rastro branco da espuma misturado a minúsculas bolhas de ar. Quando coloca a cabeça para fora d’água, já está completamente enxaguada. Hora de subir novamente na ponte de madeira que liga as duas margens do igarapé e saltar na água.
Dessa vez, sai com a cara um pouco fechada e sobe a trilha em direção à aldeia Sawre Muybu. No meio do caminho, some no meio da mata e, de repente, volta com uns espinhos que tirou do caule de uma árvore que estava caída. Senta na beira do igarapé e começa a cutucar a sola do pé para tirar algo muito pequeno e preto que a machucou. Nem 10 segundos depois, já resolveu o problema, sozinha, e joga o espinho que usou como palito na mata. Volta a nadar.
Rizela e as outras crianças Munduruku são extremamente livres e independentes. Brincam na aldeia, na floresta e nos igarapés sem medo de se machucar ou sem precisar da supervisão constante dos pais ou de adultos. As crianças mais velhas cuidam das menores e dos bebês desde cedo e há uma noção de cuidado coletivo entre todos da aldeia.
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