"Sabemos mais sobre o Sol do que sobre o núcleo da Terra
porque o Sol não está escondido de nós por 3000 km de rocha".
Isto já está mudando graças à missão Swarm da Agencia
Espacial Européia (ESA), composta de 3 satélites lançados em novembro de 2013.
Normalmente associamos correntes com o clima mas, graças à missão
de campo magnético da ESA, os cientistas descobriram uma corrente profunda
abaixo da superfície da Terra - e está acelerarando.
Lançado em 2013, o trio de satélites ‘Swarm’ está medindo
e desvendando os diferentes campos magnéticos
que derivam do núcleo da Terra, manto, crosta, oceanos, ionosfera e
magnetosfera.
Juntos, esses sinais formam o campo magnético que nos
protege da radiação cósmica e das partículas carregadas que fluem para a Terra
através de ventos solares.
Medir o campo magnético é uma das poucas maneiras pelas
quais podemos olhar para dentro do nosso planeta. Chris Finlay, da Universidade
Técnica da Dinamarca, observou: “Sabemos mais sobre o Sol do que sobre o núcleo
da Terra porque o Sol não se esconde de nós por 3000 km de rocha.”
O campo existe devido a um oceano de ferro líquido
superaquecido e em circulação que compõe o núcleo exterior. Tal como um para-raios
em movimentos circulatórios num dínamo de bicicleta, este ferro em movimento
cria correntes elétricas que, por sua vez, geram o nosso campo magnético em
constante mudança.
A monitorização das mudanças no campo magnético pode,
portanto, dizer aos investigadores como se move o ferro no núcleo.
A precisão das medições pela constelação de satélites ‘Swarm’
permite separar as diferentes fontes de magnetismo, tornando a contribuição do
núcleo muito mais clara.
Um artigo publicado hoje na ‘Nature Geoscience’ descreve
como as medições dos Swarm levaram à descoberta de uma corrente no núcleo.
Phil Livermore, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e
principal autor do artigo, disse: “Graças à missão, obtivemos novos
conhecimentos sobre a dinâmica do núcleo da Terra e é a primeira vez que essa
corrente foi vista e não só - também entendemos por que está lá.
Uma característica é um padrão de “fragmentos de fluxo” no
hemisfério norte, principalmente sob o Alasca e a Sibéria.
“Estes fragmentos de fluxo de alta latitude são como pontos
brilhantes no campo magnético e tornam mais fácil ver as mudanças no campo”,
explicou o Dr. Livermore.
Os satélites ‘Swarm’ revelam que essas mudanças são na
verdade uma corrente que se move a mais de 40 km por ano - três vezes mais rápido
do que as velocidades típicas do núcleo externo e centenas de milhares de vezes
mais rápido do que o movimento das placas tectônicas da Terra.
“Podemos explicá-lo como a aceleração numa faixa de núcleo
fluido circundando o polo, como o fluxo de correntes na atmosfera”, disse o Dr.
Livermore.
Então, o que está causando a corrente e por que está acelerando tão rapidamente?
A corrente flui ao longo de um limite entre duas regiões
diferentes no núcleo. Quando o material no núcleo líquido se move para este
limite a partir de ambos os lados, o líquido convergente é espremido para o
lado, formando um jato.
“Claro que é necessária uma força para mover o fluido para o
limite”, diz Rainer Hollerbach, também da Universidade de Leeds.
“Isso poderia ser fornecido pela flutuabilidade, ou talvez
mais provável pelas mudanças no campo magnético dentro do núcleo.”
Quanto ao que acontece em seguida, a equipa ‘Swarm’ está de
vigia e à espera.
Rune Floberghagen, diretor da missão ‘Swarm’ da ESA,
acrescentou: “Outras surpresas são prováveis. O campo magnético está a mudar
para sempre, e isso pode até fazer mudar a direção da corrente.
“Esta característica é uma das primeiras descobertas da Terra-profunda
tornadas possíveis pela missão ‘Swarm’. Com uma resolução sem precedentes agora
possível, é um momento muito emocionante - simplesmente não sabemos o que vamos
descobrir a seguir sobre o nosso planeta.
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