MOMENTO DE REFLEXÃO SOBRE O DESASTRE   DE  FUKUSHIMA
Por Redação TN/Fernanda B. Müller, do Instituto CarbonoBrasil
O dia de ontem, 11 de março, marcou os três anos da data em que os japoneses passaram por um dos episódios mais dolorosos de sua existência, o terremoto seguido de tsunami que matou mais de 18 mil pessoas e causou um dos piores acidentes ambientais do mundo na usina nuclear de Daichii, em Fukushima, o pior desastre nuclear desde Chernobyl. 
Cerimônias e protestos estão sendo realizados ao redor do mundo e, em especial, na capital Tóquio, não apenas em tributo aos mortos, mas também em protesto para que não se esqueça do impacto monstruoso que um acidente como o de Daichii pode ter. Milhares de pessoas foram às ruas em Tóquio no domingo expressando a sua oposição aos planos do governo de religar os reatores ditos “seguros”. As usinas nucleares alimentavam quase um quarto da demanda por energia do país antes do desastre.
O jornal The Telegraph entrou na usina danificada, descrevendo que, apesar da calmaria em relação ao caos que se instalou há três anos, o cenário ainda é precário, com corredores cheios de equipamentos quebrados e escombros. Os níveis de radiação baixaram significativamente desde então, mas os mais de 150 mil japoneses que foram obrigados a deixar as suas casas ainda permanecem isolados de suas vidas anteriores ao desastre. 
“Não é possível manter uma vida temporária para sempre”, disse à Reuters Ichiro Kazawa, 61 anos, que teve sua casa destruída pelo tsunami que também interrompeu a geração de energia na usina de Fukushima. Os depoimentos emocionados e indignados mostrados pela imprensa transparecem o quanto o acidente transformou as vidas dessas pessoas. Mesmo a 60 quilômetros da usina, os temores da radiação impedem que pais deixem seus filhos brincarem ao ar livre, reportou o The Telegraph.
Mas o impacto na vida dos cidadãos ainda promete se arrastar por muito tempo. A usina deve enfrentar em torno de quatro décadas de esforços de limpeza, e ainda apresenta quantidades enormes de água e materiais contaminados sem destino certo. Parte da água radioativa, ainda que sob alegação de que os níveis de contaminação são baixos, está sendo, e ainda será por um bom tempo, liberada para o Oceano Pacífico através de vazamentos.
Até cinco de março, mais de 400 mil toneladas de água contaminada estavam sendo estocadas em tanques – 400 toneladas de água radioativa são produzidas por dia. “Esquecer Fukushima torna ainda mais provável que tal desastre nuclear aconteça em outro lugar”, comentou Tatsuko Okawara, uma das milhares de vítimas do acidente no Japão, em entrevista ao Greenpeace. 
Infelizmente, não parece que ‘esquecer’ é a palavra certa para denominar os planos japoneses em relação à energia nuclear. Desde o acidente de Fukushima, o Japão desligou quase 50 reatores, passando a depender mais de fontes fósseis, como o carvão, e a apostar no desenvolvimento de energias renováveis. O governo, porém, nunca deixou de planejar a reativação dos reatores, e está trabalhando junto com as empresas que administram as usinas para tal.
Além dos investimentos pesados necessários para o religamento – apenas na usina de Hamaoka, os planos para melhorar a estrutura, por exemplo, com a construção de um muro para conter tsunamis, já remontam a US$ 3 bilhões –, Tatsujiro Suzuki, vice-presidente da Comissão Atômica de Energia, ressaltou em entrevista à Bloomberg que é preciso uma mudança de mentalidade, desde os gestores até os arranjos instrucionais.
 
 
 




 

Falta ao Brasil a consciência da gravidade e de como são imediatos nossos problemas ambientais
Washington Novaes
Data: 11/06/2013
Por: Redação TN / Sônia Araripe, Plurale 

 
Com a experiência de quem acompanha de perto o debate sobre meio ambiente, o jornalista Washington Novaes tem credenciais para fazer um alerta. “Falta ao Brasil a consciência da gravidade e de como são imediatos nossos problemas ambientais, como a questão da falta de saneamento e da poluição nas cidades”, afirma, em entrevista para Plurale em revista.
Se alguns segmentos estão atrasados no envolvimento com a solução destes graves problemas, há pontos positivos a serem destacados. Como a mobilização da sociedade, destaca Novaes. O jornalista se anima ao falar sobre o Brasil, defendendo que o país ocupe o papel de protagonista nesta transição para a chamada novíssima economia. Acompanhe, a seguir, esta entrevista concedida pelo telefone.

 - Como você vê a questão do meio ambiente no Brasil hoje? Este não tem sido um debate partido, com ambientalistas de um lado, governo de outro, empresas também defendendo seus interesses prioritariamente?

Washington Novaes - Eu acho que a questão avançou bastante no Brasil nas últimas décadas em termos de consciência ambiental da sociedade. Mas acho que avançou muito menos em termos práticos, em termos concretos. Há várias razões. Em primeiro lugar há a questão de se considerar que meio ambiente é uma coisa separada, apartada da área econômica, política, social, cultural, quando não é assim. Tudo o que o ser humano faz impacta no meio ambiente. É preciso se considerar isso. Porém, este é um capítulo muito difícil, porque exige envolvimento das áreas econômica, industrial e comercial, em todas as áreas. Inclusive, nas áreas públicas e nos projetos públicos. É muito difícil, porque quando chega essa hora que cada empresa vai pensar, aí pensa primeiro nos seus interesses particulares, nos seus custos, o mesmo no caso dos governos. E cada pessoa também irá pensar no que isso vai representar. Portanto, a distância entre a consciência teórica e a nossa prática cotidiana é muito grande.

 – Mas algumas ações concretas estão sendo tomadas por todos estes agentes citados. Governo, empresas, pessoas. Estão na direção correta ou são mais ações de marketing, o chamado greenwashing?

Washington Novaes – Há sim muitas coisas concretas, e muitas coisas que estão apenas no terreno da intenção, ou apenas digamos, na seara do marketing. Mas, não há dúvida: existem sim muitas ações concretas sendo realizadas. A chamada questão ambiental ainda não é prioridade absoluta nos projetos de governo e nos projetos da sociedade de modo geral, como precisaria ser. A questão é muito grave no mundo, no Brasil, então precisaríamos correr com isso. Ainda estamos muito longe.

 – Na ordem do dia, há diversos problemas aí apresentados: do clima, da água, da desigualdade social, da energia, etc. Quais são, na sua opinião, os problemas mais graves?

Washington Novaes - Certamente as questões do clima são gravíssimas. Nós temos ouvido as advertências seguidas da ONU, do Secretário-Geral da ONU, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Já estamos vivendo desastres extremamente graves, inclusive o Brasil. O Brasil é um dos países mais atingidos por desastres climáticos, então, esta certamente é uma grande questão, e nossas políticas são muito atrasadas quanto a isso. Eu creio também que os setores de água ganharam uma prioridade muito forte. Recentemente, a Agência Nacional de Águas trouxe um estudo demonstrando que em 2015, quase 50% dos municípios brasileiros terão problemas graves. Nós temos também nesta área outros diagnósticos, como a poluição das bacias brasileiras, da Bahia até o extremo Sul do país. A nossa situação em matéria de saneamento é vergonhosa: 40% dos municípios brasileiro quase não estão conectados à rede de esgoto e 70% não têm o esgoto tratado, sendo despejado in natura, nos rios e no mar. Esta é a principal causa da poluição das águas no brasil. A poluição do ar nas grandes cidades brasileiras também é muito grave. Portanto, temos questões muito sérias nos problemas mais básicos.

 – Com problemas ambientais assim tão graves O que está, então, faltando? Vontade política? Mobilização da sociedade?

Washington Novaes - Acho que falta a consciência da gravidade e de como são imediatos estes problemas, que precisam de solução imediata. Lamento que sejam tratados como algo que pode esperar, que pode levar tempo para resolver. Agora mesmo, estava lendo um artigo no qual dizia que o Ministério das Cidades pretende anunciar em junho, um plano que se for executado, levará mais 20 anos para se universalizar a questão da água e do esgoto no Brasil. Isto é um absurdo! Vai levar mais 20 anos, isto se for executado! Isto é um absurdo, porque, em geral, o que se destina para esta área, apenas se concretiza uma parcela pequena, e, ao mesmo tempo, a falta de prioridade nesta questão é demonstrada no orçamento do Meio Ambiente, de apenas 0,5% do orçamento geral.

 – Você acompanha o debate sobre estes temas ambientais há muitos anos. O que destacaria como ponto positivo? A mobilização e engajamento da sociedade brasileira?

Washington Novaes – Sem dúvida, a conscientização da sociedade é um avanço. Há avanços de diferentes lados, porém, não têm sido permanente. Há avanços e recuos, como, por exemplo, na questão do desmatamento e na perda da biodiversidade. O que eu tenho dito e escrito muito é que o Brasil é um país muito privilegiado, o Brasil tem tudo o que o mundo sonha: tem um território continental, que permite plantar e colher durante o ano inteiro; tem quase 13% da água que corre sobre a superfície da Terra – isto é um privilegio fenomenal, além dos aqüíferos subterrâneos gigantescos, como o Guarani, o Alter do Chão. E nós temos, no mínimo, 15% da biodiversidade mundial, e esta é a grande riqueza do futuro, porque esta biodiversidade vem nos novos alimentos, nos novos medicamentos, nos novos materiais para substituir, os que se esgotarem. O Brasil, além de tudo isso, ainda tem a possibilidade de uma matriz energética limpa e renovável. O mundo inteiro sonha com isso. O Brasil pode fazer energia além da hidroeletricidade, pode ter energia solar, energia eólica, energia de marés – que já se começa a falar em uma primeira usina -, energia geotérmica e energia das biomassas. Então, penso é que tudo isso deveria ser o centro da estratégia brasileira, porque este é o futuro. O Brasil deveria fazer disso o centro de sua estratégia, mas não faz. São coisas tratadas isoladamente e de forma insuficiente.

 – Qual seu ponto de vista quanto ao futuro do Brasil? Você, neste cenário, é otimista ou pessimista?

 Washington Novaes - Não sei. Tento não ser nem otimista, nem pessimista. Tento ser realista, tento enxergar a realidade como ela é, e, na medida das minhas possibilidades, me esforçar para que ela mude, para que se transforme, para que se adote políticas adequadas práticas, as práticas adequadas. Isso tem riscos, porque se plantar muito destas questões, corre o risco de ser chamado de pessimista, de profeta do apocalipse, este tipo de coisa. Mas não adianta, não tem como fugir disto. Isso está dentro dos nossos olhos e nós temos nossas obrigações com nossos filhos e netos. Costumo sempre citar que em 2002, na chamada Rio + 10, o então primeiro-ministro francês, Jacques Chirac fez um pronunciamento célebre. Ele terminou dizendo que as futuras gerações vão nos responsabilizar. Não podemos correr o risco das futuras gerações nos culparem pelo o que foi feito do Planeta. Os jovens hoje têm mais acesso ás informações que nós tivemos. A minha dúvida é se também têm ação. Isto é um reflexo de nossa sociedade atual. Reclama-se muito, mas se faz pouco. A maioria está sempre esperando que alguém vá agir por ela, esperando passivamente. É preciso que esta massa também aprenda a se organizar e a pedir e reivindicar o que deseja. Quando consegue, são ações relevantes, como no caso da Lei da Ficha Limpa, por exemplo.