CARTA AO TEMPO


Uma proposta de entendimento e sincronia
por Patrícia 'Ticcia' Antoniete
de Porto Alegre [RS]
[22/07/2008]
Vamos falar francamente. Tu sabes que nunca foste meu mano velho e que eu nunca te vi nem mesmo como um senhor tão bonito que merecesse uma oração. Tu e eu, Tempo, verdade seja dita, nunca nos entendemos.
Meu tempo de crescer chegou bem depois que eu já havia crescido, eu lá, cheia de corpo e hormônios no meio das meninas que já não se pareciam comigo. Cheia de planos e responsabilidades dentre quem disso nem queria saber. Estava eu lá, tempo outro, de outras gentes, mas que viviam em seu próprio e devido tempo. Eu, na vertigem da dessincronia entre mim e ti.
Foi sempre assim, não foi, Tempo? Eu lá adiante e tu cá atrás. Eu envelhecia rápido enquanto meu corpo deveria ainda estar crescendo, adultescia mais do que os adultos ao meu redor, aprendia teus mais duros ensinamentos antes mesmo da vida ter me alfabetizado como deveria. Depois, mais descompasso, na tentativa de encontrar-te de volta, no elementar, no básico, tu já havias me ultrapassado. Eu em busca do tempo de ser cuidada, e tu já não me davas mais este direito. Apontavas-me de lá teu dedo implacável da auto-suficiência, enquanto eu era uma menina que não sabia o que fazer de mim.
Nunca entendi as tuas certezas, Tempo, nem o tempo das certezas dos outros. Sempre estive muito longe - ou na instantaneidade do óbvio, ou na intransponibilidade da ausência. Sempre eu, atrelada à anacronia atávica. Sempre eu, na inadequação cronológica. Sempre eu, muito cedo ou muito tarde. Sempre eu, intempestiva.
Por isso venho a ti, Tempo, cansada de perseguir-te. Te peço que me ensines teu ofício, este em que as horas não dóem, em que os instantes vivem e florescem sem peso ou bruma, em que os momentos às vezes sobrepõem os anos, mas em que os anos passam nos fortalecendo o andar. Pega-me no colo, Tempo, mostra-me teu rosto, faz-me entender que tu não queres fugir e que eu não posso apreender-te. Dá-me a tua mão, Tempo, leva-me a teu lado. Mostra-me de novo e de novo e de novo que não há para onde ir, a não ser estar aqui e agora, junto de ti.
ilustração: irisz agocs

*Patrícia "Ticcia" Antoniete é uma advogada Porto-alegrense que escreve todas as quintas-feiras a coluna in-ventário na Revista Paradoxo

O PODER DA PALAVRA


Por Aldson Miná

Quantas vezes já ouvimos a ameaça "quem fala o que quer, ouve o que não quer?” E quantas e quantas vezes ignoramos essa regrinha básica da convivência civilizada?

Betty Milan, em recente artigo em Veja, diz o óbvio: que a vida não é fácil e se torna impossível quando dizemos o que não deve ser dito. Prossegue com esta jóia de mandamento do viver bem - é preciso que aprendamos a escutar o que dizemos. Não estamos aqui discutindo questões semânticas.

A palavra, sem aludir à Palavra, de poder incontestável, pode ser o que o vulgo chama de faca de dois gumes. E bem afiada. Não importa se falada, escrita, televisada, irradiada ou mandada pelos ares por meio de MSN, Orkut e outros modismos do gênero na Internet, inclusive certos comentários infames nos sites de notícias...

Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas lembra Betty, diz através de um personagem que "viver é perigoso". Façamos a substituição de "viver" por "falar" e constataremos que a periculosidade do ato de abrir a boca e falar sem pensar é também enorme. Implica quase sempre em mal-entendido, inimizade, mancha na reputação de pessoas ilibadas, perda do respeito dos amigos e até, suprema punição, a perda desses amigos.

Até na novela das oito (leia-se nove e dez, mais ou menos), local insuspeito para ser considerado fonte de cultura, vez por outra um personagem diz que as palavras tem força e que depois de lançadas ao vento, fica difícil controlar ou anular seus efeitos. Aí é se jogar num poço sem fundo de insabores, com consequências imprevisíveis.

Vale, por outro lado, lembrar a força incrível das mágicas palavrinhas bom dia, com licença, obrigado, por favor...

Estamos cansados de saber que a palavra tanto pode servir para unir, consolar, curar e fazer nascer o amor quanto para desunir, prejudicar, desesperar e dar fim ao amor... Por que então essa insistência mórbida de deixar a boca agir sem sincronismo com o cérebro?

CONGRESSO - AO SAIR LIMPE OS PÉS


Não gosto de reproduzir artigos de jornais. Acho que o Blog é um espaço alternativo de reflexão sobre temas que considero importantes. Mas vou abrir uma exceção, reproduzindo aqui uma breve carta de um leitor da Folha De São Paulo publicada no Painel do Leitor de domingo 5.07. Reproduzo a carta porque ela aborda com rara felicidade um tema dos mais importantes da conjuntura política nacional que vivemos atualmente e que deve ser para nós motivo de uma profunda reflexão. Teremos eleições em 2010 e, se quisermos que nossas instituições democráticas se tornem ao menos éticas, é hora de pensarmos no assunto com seriedade. Eis a carta enviada ao Jornal por Antonio Dílson Pereira, de Curitiba, Paraná.
Agaciel puxando Sarney,Renan e Garibaldi

“Realmente o Brasil é um país surrealista, com uma classe política inigualável. Nossos homens públicos não tem o menor respeito pelas posições que ocupam, pela população e pelo erário.
O mais grave é que, apanhados, o discurso é sempre o mesmo: não sabiam, nem mesmo quando os fatos envolvem seus familiares ou pessoas de seus círculos íntimos. Não têm a coragem, nem a dignidade de reconhecer que erraram. Nunca reconhecem seus erros e tentam se segurar nos cargos a qualquer custo. Em qualquer país do mundo o político acusado de alguma falcatrua retira-se de cena, recolhe-se e não tenta voltar. No Brasil, lamentavelmente eles não se retiram da cena política e quando são expelidos, fazem tudo para voltar.
Do outro lado aparecem os defensores da governabilidade que, em nome do pragmatismo, defendem os acusados, independentemente da gravidade dos fatos. Como hoje se defende a governabilidade para dar sustentação ao presidente do Senado, um homem que poderia ter se recolhido, após exercer a magistratura máxima da nação, não o fez e hoje colhe o que plantou. Da mesma forma o senador Renan Calheiros foi defendido em nome da governabilidade, quando era insustentável – tanto que não teve outra saída a não ser renunciar à presidência da Casa.
A lição do senador Renan Calheiros – que por sinal encontra-se envolvido na pendenga de hoje – não serviu para nada, a não ser para deteriorar ainda mais a imagem do Legislativo brasileiro, o que é uma pena. Por isso é que é atualíssima a máxima de Eça de Queiroz: ‘Os políticos, como as fraldas, devem ser trocados constantemente e pela mesma razão’.”

Acho de rara felicidade a conclusão do missivista e a máxima de Eça de Queiroz deve ser adotada como um slogan para a campanha eleitoral de 2010. O lamentável é que o nível educacional e cultural da população brasileira é tão baixo que a maioria não conseguirá entender o que Eça de Queiroz quis dizer. Aliás, a grande maioria se quer lê jornais ou Blogs e as novelas da Globo não estarão interessadas em divulgar o tema. Mas não há dúvida que é um grande slogan para o Brasil de hoje, pois, político muito tempo no poder certamente estará tão sujo e fétido como uma fralda não trocada.
Brasilia-sociedade secreta

SERÁ QUE NOSSA SOCIEDADE TERÁ CONDIÇÕES DE TORNAR A CHARGE ABAIXO COISA DO PASSADO? UMA HORA ISSO TERÁ QUE SER ENFRENTADO. POR QUE NÃO COMEÇAR AGORA?

Bernardo

BURCA - DOMINAÇÃO OU STATUS


Alguém já parou para refletir sobre o que passa na cabeça de uma dessas mulheres quando saem à rua. Como devem se sentir? Ou será que não pensam,simplesmente aceitam o que lhes é imposto: uma submissão sem limites.
E quanto aos homens? Que tremenda insegurança devem sentir com relação à conduta de suas mulheres. Ou estarei raciocinando como um ocidental? Talvez a ótica muçulmana seja totalmente diferente da nossa, como é a hindu e a chinesa.
Más é difícil entender e, sobretudo aceitar que mulheres em qualquer lugar do mundo aceitem com naturalidade andar com esse traje na rua. Não é a toa que a medida que os sistemas políticos e religiosos desses paises torna-se mais liberal imediatamente elas abandonam esses costumes e adotam um comportamento mais ocidentalizado.
Vejamos os diferentes trajes usados pelas mulheres nos países árabes:
HIJAB

XADOR

NIQAB

BURCA

O véu foi originalmente introduzido nas antigas civilizações da Pérsia e da Mesopotâmia e mais tarde, na cultura greco-romana. Caracterizava o status feminino elevado, conferindo-lhe uma certa inacessibilidade. Habitual entre as mulheres judias, tornou-se, também, uma referência das damas cristãs em Bizâncio e na Idade Média ocidental. O Profeta Mohammad instituiu o uso do véu no século VI, na Arábia, para que as muçulmanas também gozassem da mesma dignidade das demais seguidoras entre os povos do Livro, isto é, da Torá e do Evangelho. Deste modo, numa época selvagem e belicosa, onde a lei mal se delineava, o véu era uma salvaguarda. Porém, mais do que isso, o seu uso simbolizava a elevação espiritual da condição feminina, assim como o turbante concedia aos homens a sacralização da cabeça. O Islão pretendeu, através do sacerdócio universal, estender a toda a Ummah (Comunidade) uma vestimenta que tornasse os fiéis iguais diante de Deus.
Portanto, o uso do véu originalmente não designou a submissão feminina, embora uma política gradualmente machista – muito distante da época em que as mulheres muçulmanas cavalgavam e guerreavam ao lado dos homens – refreou as suas liberdades e, na mesma medida, o seu rosto foi se tornando anónimo. Com o tempo, o véu - burkas, xadors e abayas veio a cair nas mãos de uma intolerância patriarcal cada vez maior, tornando-se motivo de apologia entre os fundamentalistas: wahabbitas da Arábia Saudita, radicais xiitas do Irã pós-Khomeíni, talibãs afegãos e guerrilheiros do Hamas, na Palestina. Para estes, o véu se tornara uma arma de controle e exclusão da mulher, privada de escolha quanto à sua própria indumentária. Países como o Iraque e o Líbano, nas últimas décadas, promoveram uma progressiva libertação do corpo feminino e de seus costumes.
Portanto na época atual o uso do véu foi totalmente deturpado, convertendo-se em objeto de submissão e dominação de genero. Como a evolução é o caminho natural de toda a sociedade, afinal se olharmos a nossa civilização cristã veremos o quanto a mulher foi submetida a dominação e a humilhação, acredito que o caminho da igualdade deverá um dia trilhar por aquelas bandas.
Bernardo