Falta ao Brasil a consciência da gravidade e de como são
imediatos nossos problemas ambientais
Washington Novaes
Data: 11/06/2013
Por:
Redação TN / Sônia Araripe, Plurale Se alguns segmentos estão atrasados no envolvimento com a solução destes graves problemas, há pontos positivos a serem destacados. Como a mobilização da sociedade, destaca Novaes. O jornalista se anima ao falar sobre o Brasil, defendendo que o país ocupe o papel de protagonista nesta transição para a chamada novíssima economia. Acompanhe, a seguir, esta entrevista concedida pelo telefone.
Washington
Novaes - Eu acho que a questão avançou bastante no Brasil nas últimas
décadas em termos de consciência ambiental da sociedade. Mas acho que avançou
muito menos em termos práticos, em termos concretos. Há várias razões. Em
primeiro lugar há a questão de se considerar que meio ambiente é uma coisa
separada, apartada da área econômica, política, social, cultural, quando não é
assim. Tudo o que o ser humano faz impacta no meio ambiente. É preciso se
considerar isso. Porém, este é um capítulo muito difícil, porque exige
envolvimento das áreas econômica, industrial e comercial, em todas as áreas. Inclusive,
nas áreas públicas e nos projetos públicos. É muito difícil, porque quando
chega essa hora que cada empresa vai pensar, aí pensa primeiro nos seus
interesses particulares, nos seus custos, o mesmo no caso dos governos. E cada
pessoa também irá pensar no que isso vai representar. Portanto, a distância
entre a consciência teórica e a nossa prática cotidiana é muito grande.
Washington
Novaes – Há sim muitas coisas concretas, e muitas coisas que estão apenas
no terreno da intenção, ou apenas digamos, na seara do marketing. Mas, não há
dúvida: existem sim muitas ações concretas sendo realizadas. A chamada questão
ambiental ainda não é prioridade absoluta nos projetos de governo e nos
projetos da sociedade de modo geral, como precisaria ser. A questão é muito
grave no mundo, no Brasil, então precisaríamos correr com isso. Ainda estamos
muito longe.
Washington
Novaes - Certamente as questões do clima são gravíssimas. Nós temos ouvido
as advertências seguidas da ONU, do Secretário-Geral da ONU, do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Já estamos vivendo desastres
extremamente graves, inclusive o Brasil. O Brasil é um dos países mais
atingidos por desastres climáticos, então, esta certamente é uma grande
questão, e nossas políticas são muito atrasadas quanto a isso. Eu creio também
que os setores de água ganharam uma prioridade muito forte. Recentemente, a
Agência Nacional de Águas trouxe um estudo demonstrando que em 2015, quase 50%
dos municípios brasileiros terão problemas graves. Nós temos também nesta área
outros diagnósticos, como a poluição das bacias brasileiras, da Bahia até o
extremo Sul do país. A nossa situação em matéria de saneamento é vergonhosa:
40% dos municípios brasileiro quase não estão conectados à rede de esgoto e 70%
não têm o esgoto tratado, sendo despejado in natura, nos rios e no mar. Esta é
a principal causa da poluição das águas no brasil. A poluição do ar nas grandes
cidades brasileiras também é muito grave. Portanto, temos questões muito sérias
nos problemas mais básicos.
Washington
Novaes - Acho que falta a consciência da gravidade e de como são imediatos
estes problemas, que precisam de solução imediata. Lamento que sejam tratados
como algo que pode esperar, que pode levar tempo para resolver. Agora mesmo,
estava lendo um artigo no qual dizia que o Ministério das Cidades pretende
anunciar em junho, um plano que se for executado, levará mais 20 anos para se
universalizar a questão da água e do esgoto no Brasil. Isto é um absurdo! Vai
levar mais 20 anos, isto se for executado! Isto é um absurdo, porque, em geral,
o que se destina para esta área, apenas se concretiza uma parcela pequena, e,
ao mesmo tempo, a falta de prioridade nesta questão é demonstrada no orçamento
do Meio Ambiente, de apenas 0,5% do orçamento geral.
Washington
Novaes – Sem dúvida, a conscientização da sociedade é um avanço. Há avanços
de diferentes lados, porém, não têm sido permanente. Há avanços e recuos, como,
por exemplo, na questão do desmatamento e na perda da biodiversidade. O que eu
tenho dito e escrito muito é que o Brasil é um país muito privilegiado, o
Brasil tem tudo o que o mundo sonha: tem um território continental, que permite
plantar e colher durante o ano inteiro; tem quase 13% da água que corre sobre a
superfície da Terra – isto é um privilegio fenomenal, além dos aqüíferos
subterrâneos gigantescos, como o Guarani, o Alter do Chão. E nós temos, no
mínimo, 15% da biodiversidade mundial, e esta é a grande riqueza do futuro,
porque esta biodiversidade vem nos novos alimentos, nos novos medicamentos, nos
novos materiais para substituir, os que se esgotarem. O Brasil, além de tudo
isso, ainda tem a possibilidade de uma matriz energética limpa e renovável. O
mundo inteiro sonha com isso. O Brasil pode fazer energia além da
hidroeletricidade, pode ter energia solar, energia eólica, energia de marés –
que já se começa a falar em uma primeira usina -, energia geotérmica e energia
das biomassas. Então, penso é que tudo isso deveria ser o centro da estratégia
brasileira, porque este é o futuro. O Brasil deveria fazer disso o centro de
sua estratégia, mas não faz. São coisas tratadas isoladamente e de forma
insuficiente.
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