RONDÓ DE UMA MULHER SÓ

Impressionante análise da condição de mulher. E o mais impressionante é que é escrita por um homem: PAULO MENDES CAMPOS. Leia que impressionante “momento de reflexão” ele nos dá neste ensaio publicado em sua obra
(O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. 2a ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 63-65).

Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.
Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.
O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.
Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.
A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.
É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.
Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.
Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.
Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.
OS tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.
Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?

SEXTA-FEIRA 13


O mundo pode estar entrando em um período ainda mais conturbado do que aquele vivido durante o séc XX. Os preconceitos, racismo, nacionalismos, tendências e posições ultraconservadoras estão ganhando força, à medida que a situação econômica e social se deteriora.
É paradoxal o momento que vivemos. Ao mesmo tempo que grandes tabus são quebrados, em que mulheres, negros e trabalhadores assumem como governantes em nações tidas como conservadoras, outros tabus se criam. A Igreja Católica tem como Papa um de seus representantes mais conservadores, avesso a homossexuais, pesquisas cientificas, controle de natalidade, favorável à volta da venda de indulgências, enfim...um Papa medieval. Árabes e Judeus querendo fazer inveja a Hitler, adorariam exterminar um ao outro. Na Europa partidos e grupos neonazistas ganham força e importância . Por todo mundo ganham mais peso e destaque facções criminosas, cartéis de drogas, trafico humano e de órgãos. As instituições políticas se afogam na própria lama sem o menor pudor pois deixaram de ser imorais, são amorais, portanto para eles moral não existe.
Que tempos sombrios estamos vivendo. Na verdade todos os tempos sempre foram sombrios, embora tenha havido fases melhores e outras muito piores. Fala-se tanto na maravilhosa década de 60 do séc XX, mas não podemos esquecer que havia guerra fria, quase houve um conflito nuclear, tivemos golpes militares em muitos países, milhares de desaparecidos políticos, Kennedy foi assassinado. Não houve uma só década em que o mundo respirou aliviado.

Aliás, hoje está difícil até respirar, os níveis de poluição estão alarmantes, o aquecimento global está destruindo a Ásia, a Austrália e irá acabar rapidamente com o Ártico trazendo conseqüências imprevisíveis para todo o planeta. Sempre disse que quanto mais analiso o homem e sua história mais respeito os animais (irracionais....será?) Mas por quanto tempo ainda veremos animais (irracionais). O maior dos predadores com certeza irá aniquilá-los a todos, talvez mais rápido do que imaginamos.
Bernardo

ARVORE DÁ PÉ


Muito se fala em preservação do meio ambiente. Não passa um dia sem se ouvir alguma informação sobre qualidade do ar, água, aquecimento global, efeito estufa, etc. Muitas ONGs disputam os noticiários e promovem campanhas de proteção ambiental e preservação ecológica.
Nosso “Momento de Reflexão” é sobre a nossa participação individual no cotidiano. O que efetivamente fazemos para dar a nossa contribuição à preservação do planeta? É claro que as iniciativas públicas pelo Estado e coletivas pelas organizações ambientais são de fundamental importância. Mas além dessas, a conscientização individual também o é. O trabalho de formiguinha, reciclando lixo, plantando um jardim, floreiras ou uma árvore na calçada é tão importante quanto iniciativas de governo. Aliás acho que é mais importante pois elas forçarão governos a tomar iniciativas.
É comprovado que áreas arborizadas chegam a registrar de 6 a 8 graus C de temperatura mais baixa que áreas áridas, não só pelo filtro da folhagem sobre os raios solares mas também pela preservação da umidade.
Alguns dos benefícios que as árvores trazem ao ambiente:
Liberam vapor d’água, o que aumenta a umidade e diminui a temperatura;
Geram sombra;
Retêm poeira e filtram a poluição através das folhas;
Atenuam a poluição sonora;
Absorvem o gás carbono e produzem oxigênio;
Retêm a água da chuva o que diminuem enxurradas e enchentes;
Colaboram para a preservação da fauna e da biodiversidade.
Arborizar é uma questão de sobrevivência. Todo cidadão tem o dever de plantar uma árvore em sua calçada e cuidar dela. Se não tem calçada deve participar da adoção de parques, praças, canteiros, beiras de estrada. É uma atitude cidadã e além disso dá um retorno não só ao meio ambiente, não só à saúde no sentido ecológico, mas também físico e mental. É uma atividade que exercita, que socializa as pessoas e faz bem à alma.
Abaixo uma relação das 10 espécies de árvores mais comuns de São Paulo, com um pequeno histórico de cada uma.

TIPUANA (Tipuana Tipu) nativa da Bolívia, muito plantada entre 1940 e 1980.


FICUS (Ficus Benjamina) nativa do Sudoeste Asiático, muito plantada pela população a partir de 1990.

ALFENEIRO (Ligustrum Japonicum) nativa do Japão, plantada em São Paulo entre 1900 e 1990.

JERIVA (Syagrus Romanbzoffiana) típica das matas originais de São Paulo, é plantada desde o período colonial.

SIBIPIRUNA (Caesalpinia peltophoroides) nativa da mata Atântica do Rio, plantada desde 1940.

PAU FERRO (Caesalpinia férrea) nativa do Nordeste do Brasil trazida para arborização a partir do início do século 20.


JACARANDÁ MIMOSO (Jacarandá mimosaefolia) nativo da Argentina aqui desde o início do séc. 20

IPÊ DE EL SALVADOR (Tabebuia heterophylla) nativa da América Central, bastante plantada nos últimos 30 anos.


RESEDÁ (Lagerstroemia indica) nativa do Sudeste Asiático , plantada desde 1920

QUARESMEIRA (Tibouchina granulosa) nativa da Serra do Mar, plantada desde 1920

Bernardo
EM NOVO ARTIGO POSTADO EM 07/10/2009 DISCUTIMOS O PLANTIO EM ÁREAS URBANAS DE ÁRVORES FRUTÍFERAS

PENSAR E AGIR NO MUNDO, PELO MUNDO


“O problema da educação no mundo moderno está no fato de, por sua natureza, não poder abrir mão nem da autoridade, nem da tradição, e ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é estruturado pela autoridade e tampouco mantido coeso pela tradição.” (Hannah Arendt)
Visto que a autoridade sempre exige obediência, ela é comumente confundida com alguma forma de poder e violência. Contudo a autoridade exclui meios de coerção, onde a força é usada a autoridade fracassou. O que mantém a autoridade é o reconhecimento da hierarquia cujo direito e legitimidade ambos os lados reconhecem.
Volta às aulas e sempre o mesmo tema volta à tona. Educação de qualidade...As deficiências de nossa educação, etc. Qual a diferença entre EDUCAÇÃO e APRENDIZAGEM?
É muito fácil ensinar sem educar e pode-se aprender o dia todo sem por isso ser educado. Educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens.A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos não arrancando de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as, em vez disso, com antecedência
para a tarefa de renovar um mundo comum.
Nossas escolas buscam a aprendizagem como sinônimo de educação. Para acabar com esse estigma seria necessário ter a coragem suficiente de romper com os velhos conceitos de acumulação de conhecimentos. Mesmo porque esses conceitos estão totalmente defasados. As crianças passam anos na escola e tão pouco aprendem. São anos perdidos que poderiam ser mais bem utilizados.Talvez por isso Einstein dizia que “cultura é aquilo que fica quando se esquece o que se aprendeu na escola.”
O que realmente conta em educação é a consciência e a capacidade de preservar o mundo transformando-o em algo melhor.
Bernardo