Em um rincão remoto da Amazônia venezuelana, um grupo de
cientistas descobriu que membros de uma aldeia isolada de Yanomâmis carregam
consigo as colônias mais diversas de bactérias jamais encontradas dentro do
organismo humano. O microbioma – os bilhões de bactérias benéficas que convivem
com os humanos – desempenham um papel crítico na manutenção da saúde. O estudo
publicado em abril levanta questões surpreendentes sobre a diversidade
microbiana de nossos antepassados, como se a dieta e o estilo de vida ocidentais
estão nos privando de alguns microorganismos que nos seriam benéficos.
O mais assombroso é que este grupo de indígenas yanomani têm
em seu organismo gens com a capacidade de resistir ao tratamento com
antibióticos, embora os indígenas provavelmente nunca foram expostos a
medicamentos modernos.
Esta população isolada oferece uma oportunidade única de
expreitar com o microscópio o nosso passado microbiano, disse o professor José
Clemente, professor adjunto de Genética na Escola de Medicina Icahn no Hospital
Monte Sinai em Nova York.
Os resultados reforçam uma teoria de que a diminuição da
diversidade microbiana se associa a enfermidades imunológicas e metabólicas,
como alergias, asmas e diabetes, que estão aumentando.
O desafio é determinar quais são as bactérias importantes
cujas funções necessitamos para estarmos saudáveis.
Todo ser humano é portador de um grupo personalizado de
micróbios que vivem no nariz, na boca, na pele e nos intestinos. Este zoológico
biológico começa a formar-se a partir do nascimento e varia de indivíduo para
indivíduo, dependendo de onde vive, sua dieta, veio ao mundo por cesariana ou
não e também pela exposição de antibióticos.
A maior parte do que os cientistas conhecem sobre o
microbioma humano provem de estudos sobre norte-americanos, como o Projeto de
Microbioma Humano dos governos dos EUA e europeus. Porém, cada vez mais os
cientistas tratam de compara-los com populações não ocidentais, em especial os
que mantem estilos de vida tradicionais, como os isolados yanomamis.
Os yanomamis seguem vivendo como caçadores e coletores em
bosques e montanhas na fronteira entre Venezuela e Brasil e como grupo são
bastante conhecidos. Mas a investigação tratada na revista Science Advances se
baseou em uma população yanomami pouco conhecida que vive nas montanhas do sul
da Venezuela. Os investigadores dizem que não revelam o nome do grupo por
motivos de privacidade mas indicam que foi visitado pela primeira vez por uma
expedição médica venezuelana em 2009 que coletou mostras fecais, histológicas e
de saliva de 34 habitantes.
Os cientistas compararam o DNA bacterial dos indígenas com
amostras de cidadãos norte-americanos e concluíram que os microbiomas destes últimos são 40% menos
diversos. Os microbiomas dos yanomamis foram também mais diversos que as
amostras de outras populações indígenas com maior exposição à cultura ocidental
como os guahibos da Venezuela e comunidades rurais de Malaui no sudeste da
África.
Os yanomamis possuem algumas bactérias únicas com efeitos
benéficos para a saúde, como por exemplo para combater a formação de cálculos
renais e outras enfermidades como concluíram os especialistas.
Se já perdemos quase 40% dessa carga de microbioma do bem, o que esperar para as futuras gerações daqui mais algumas centenas de anos. A humanidade corre o risco de ficar tão enfraquecida que poderá perder definitivamente a batalha pela vida.
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