A EUROPA A BEIRA DO ABISMO
A economia do euro está parando. Mergulhada numa tempestade perfeita de asfixia fiscal, desemprego, retração da demanda e vazio assustador de liderança, o continente alterna dias de falso alívio com outros de puro desespero. A quinta-feira é do desespero. Carteiras de ações queimam nas mãos de fundos e investidores que entopem as bolsas com ordens de vendas movidas pela certeza de que amanhã os papéis valerão menos que hoje. Pregões despencam nas principais praças. Ventos frios transformam temores em confirmações: França e Alemanha desaceleram; dos EUA chegam números da mesma deriva: vendas de imóveis usados caíram ao nível mais baixo desde 2009; pedidos de seguro desemprego crescem; atividade industrial tombou em Nova Iorque e embicou drasticamente na Filadelfia.
Há coisas piores sobre a mesa dos próximos dias: em setembro a Itália terá que levantar 50 bilhões de euros para girar sua dívida pública da ordem de 120% do PIB. Os centuriões do euro, Sarkozy e Merkel, jogaram água fria nas esperança de um reforço no fundo europeu de estabilização que pudesse prefigurar uma unificação fiscal solidária. Ao contrário, o que fizeram foi dardejar ameaças de entregar aos leões da especulação as nações que não cumprirem metas de arrocho fiscal em plena recessão...
Não por acaso a bolsa de Milão caía 5,7% na tarde desta 5º feira. As portas vão se fechando. A esperança de que o mundo possa evitar um rastejante ciclo de crise longa e dissolvente, como diz Maria da Conceição Tavares, esfarelam-se com maior velocidade cada vez que as lideranças conservadoras abrem a boca e fecham os punhos a bradar mais ortodoxia neoliberal para acudir o desfalecimento do mundo criado por 30 anos de neoliberalismo. Os detentores de carteiras que dependem de robustez econômica engrossam as manadas pró-cíclicas escavando o fundo do abismo das cotações de vendas.
Uma luz tardia vem das palavras de Obama em sua caravana pré-eleitoral no Meio-Oeste americano. Acossado por críticas à direita e ao centro, o democrata fala em relançar o emprego na maior economia capitalista da terra com incentivos a pequenos e médios negócios. Num vislumbre de ativismo fiscal algo anacrônico depois da derrota para o arrocho do Tea Party, Obama chega a acenar com a criação de um banco de desenvolvimento para infraestrutura. Ou seja, um banco de investimento estatal, a exemplo do BNDES demonizado pelo conservadorismo nativo. Se decidir peitar de fato seus ortodoxos, Obama poderá buscar inspiração no precursor brasileiro. Hoje o BNDES figura como o maior banco desenvolvimento do mundo: três vezes maior que o Banco Mundial , por exemplo. Sem ele, outra ferramenta anti-cíclica que Obama poderá imitar, não existiria: o PAC, que reúne R$ 1,5 trilhão em obras (R$ 960 bi até 2014). Números de causar urticária em Sarah Palin.
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