ENTRE A COISA PÚBLICA E A PRIVADA


Entre a coisa pública e a privada
achou-se a República assentada.

Uns queriam privar da coisa pública
outros queriam provar da privada,
conquanto, é claro, que na provação,
a privada, publicamente parecesse perfumada.
Dessa luta intestina entre a gula pública e a privada
a República acabou desarranjada
e já ninguém sabia quando era a empresa pública
privada pública ou pública privada.

Assim ia a rês pública: avacalhada
uma rês pública: charqueada
uma rês pública, publicamente
corneada, que por mais
que lhe batessem na cangalha
mais vivia escangalhada.

Qual o jeito?
Submetê-la a um jejum?
Ou dar purgante à esganada
que embora a prisão de ventre
tinha a pança inflacionada?

O que fazer?
Privatizar a privada
onde estão todos
publicamente assentados?
Ou publicar, de uma penada,
que a coisa pública
se deixar de ser privada
pode ser recuperada?

— Sim, é preciso sanear,
desinfetar a coisa pública,
limpar a verba malversada,
dar descarga na privada.

Enfim, acabar com a alquimia
de empresas públicas-privadas
que querem ver suas fezes
em ouro alheio transformadas.

Affonso Romano de Sant'Anna

5 comentários:

Graça Pereira disse...

Uma sátira fantástica...interessante...e ACTUAL!
Parabens!
Beijo
Graça

Carmo disse...

Excelente!!! E assim vai a nossa Republica.

Beijinhos e bom fim de semana

Telma Monteiro disse...

Maravilhoso Affonso Romano de Sant'Anna, com maestria colocando o dedo na ferida!

André Merli disse...

Olá.
Um poema ajuda a aproximar o assunto - coisa pública - de cada vez mais pessoas.
André
http://nossacoisapublica.blogspot.com

André Merli disse...

Um poema ajuda o assunto COISA PÚBLICA a chegar mais perto dos cidadãoes comuns
André