O MEU PAÍS

Aproximam-se as eleições e com a campanha que já se iniciou haverá com certeza muitos MOMENTOS DE REFLEXÃO sobre o Brasil, sua situação política, econômica e social.
Apresento a letra de uma música escrita durante o regime militar por três autores nordestinos de primeira grandeza: Livardo Alves, Gilvan Chaves e Orlando Tejo (este último, ao que parece é o autor da letra), título "O Meu País". O fato de ser escrita a bastante tempo não lhe retira o seu valor, ao contrário: parece que foi escrita hoje, tamanha a atualidade do que diz, sinal de que nada mudou. Esta não é apenas como uma crítica ao atual governo, mas uma crítica aos 500 anos de exploração e sofrimento a que foi submetido este povo, a letra diz tudo basta ler e refletir...
Livardo Alves, Orlando Tejo e Gilvan Chaves


O MEU PAÍS
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo...
Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram-se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país.
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo...
Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país.
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo...
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país
Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio-x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país.
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país.
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo...

Para ouvir a música acesse o You Tube no link abaixo
http://www.youtube.com/watch?v=s_jW4vrikms

2 comentários:

Anônimo disse...

Vim até aqui...
para te trazer gentilezas...
e beijos gentis...
Leca

1bereto de almeida disse...

heum ótimo espaço. descobri-o agora. somente uma observação: a ilustração - orlando, gilvan e livardo - foi criada com exclusividade para o o blog "EU Plural", leia-se (ou acesse-se) humbertodealmeida.com.br. Mas podes ficar à vontade, só esperava a "autoria". Ah, quanto a letra, o poema em si, foi isso mesmo: escrito pelo mestre Orlando Tejo, hoje, infelizmente, nos seus estertores... putabraço. 1berto de almeida