Há noites em que sonho. Sonho com uma humanidade capaz de
viver bem e feliz dentro dos limites climáticos do planeta. Sonho com um mundo
solidário com os pequenos Estados insulares que serão os primeiros a
desaparecer do mapa se não retificarmos os rumos. Sonho com os dirigentes da
delegação filipina que, após ver seu país arrasado pelo tufão Bopha, suplicou à
comunidade internacional que “abra os olhos e vejam a realidade a sua frente.
Sonho com um homem e uma mulher “climaticus racionales” ante os alertas
constantes dos cientistas de que já está ocorrendo um aquecimento global acima
das previsões mais pessimistas. Dito de outra maneira, sonho com que Sandy não
seja mais que o nome de uma criança normal, não de um devastador furacão.
Nossos sonhos não entram em suas cúpulas. Desde logo,
este sonho não é aquele que os dirigentes tem desenhado na última cúpula sobre
mudanças climáticas em Doha, no Catar. O mundo pós Doha, na linha das
fracassadas cúpulas anteriores em Copenhague, Cancún e Durban, é um mundo onde
primam os egoísmos dos grandes contaminadores, começando com EUA, Rússia e
Japão. É um mundo onde o protocolo Kioto, que representa apenas 15% das
emissões mundiais é apenas uma plástica verde das políticas insustentáveis e
irresponsáveis das grandes potencias mal desenvolvidas e emergentes. É um mundo
que encaminha a humanidade, começando pelas pessoas e grupos mais empobrecidos
e vulneráveis, para o pior cenário climático possível, ou seja, um aumento de 4º
C no final do século. É um mundo onde triunfará a arrogância e o cinismo.
Hoje o clima e a vida de milhões de pessoas são
mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros, de empresas multinacionais que pressionam
para que seus interesses milionários não sejam afetados. Assim, não podemos nos
resignar ante a oligarquia que nos leva direto ao colapso ou ao ecofascismo,
onde uns poucos repartem os pedaços da natureza. Parafraseando Stéphane Hessel,
lutemos contra a indiferença climática – e ecológica em geral – e convoquemos
uma revolução pacífica a favor da vida e do bem comum. Está em jogo a
sobrevivência da civilização, da humanidade, a de nossos filhos e filhas, a
minha e a tua.
Se você também é um indignado climático, passe a ação,
não espere que os que não nos representam atuem por tí. Difunde este manifesto,
seja um portavóz dos sem vóz, defenda seu futuro e o de sua família. Em tua
casa, teu bairro, teu trabalho, na praça pública, ponha a justiça climática e ambiental
no centro de tuas preocupações. Uma-se a redes e coletivos que em torno de você
propõem outros mundos possíveis e já buscam construir desde a base alternativas
ecológicas e sociais. Tens muito poder, não o desperdice: o todo é mais que a
soma de suas partes. Assim de um passo à frente e grite aos quatro ventos: eu
também sou um indignado climático.
Um comentário:
Muito bom esse manifesto, parabéns.
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