MATA ATLANTICA EM ESTADO TERMINAL


 
A Mata Atlântica perdeu 235 quilômetros quadrados (km²) de vegetação de 2012 para 2013, o que representa um aumento de 9% no ritmo da devastação em relação ao último período avaliado (2011-2012), de acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, elaborado pela organização não governamental (ONG) SOS Mata Atlântica, em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A área equivale a 24 mil campos de futebol.
Por Luiz Claudio Marigo para National Geographic:
Quando os portugueses chegaram à costa brasileira, a Mata Atlântica cobria cerca de 1,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro – que, em 500 anos, foram reduzidos a 7% dessa área. Nesse bioma, vivem atualmente 8 000 espécies de plantas e animais endêmicos. Mais de 530 dessas espécies estão ameaçadas de extinção. Quando fiz a conexão entre esses dados, senti duas emoções quase contraditórias – espanto e tristeza –, e percebi que a paisagem onde eu e a maioria da população brasileira nascemos e crescemos, está em estado terminal. Todo um universo de vida e exuberância está agora ameaçado de extinção.
Inúmeras vezes voei do Rio de Janeiro, onde vivo, para Salvador e também para São Paulo e Florianópolis, observando a paisagem litorânea da janela do avião. É uma perspectiva limitada, restrita a alguns quilômetros da rota de voo, mas sempre vi apenas abandono e desolação: em qualquer direção, terras improdutivas, campos cobertos de sapê, as cidades e espaços vazios – sobretudo vazios de floresta. No Google Earth, em imagens de satélite, quando a América do Sul cresce na tela, vê-se logo o verde intenso da Amazônia, mas o litoral brasileiro surge acinzentado. A diferença é flagrante. As maiores extensões de Mata Atlântica revelam-se apenas em fragmentos no norte do Paraná e sul de São Paulo, na região das Agulhas Negras e Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, no centro de dois parques nacionais.
Outros bolsões menores conservados surgem ao norte de Linhares, no Espírito Santo, na Reserva Biológica de Sooretama e na Reserva Natural Vale, que formam um bloco importante. No sul da Bahia, o verde é dos parques nacionais perto de Porto Seguro e da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel.
Cada pequeno fragmento de mata atlântica é importante – uma matriz para a reconstituição da floresta. Em algum momento, nós brasileiros vamos perceber o que estamos perdendo e precisaremos nos dedicar a refazer a mata. Alguns já estão trabalhando – cidadãos e empresas. A Reserva Ecológica Guapiaçu (Regua), no Rio de Janeiro, estimula a educação ambiental nas comunidades vizinhas e realiza pesquisas em suas matas, aumentando o conhecimento sobre a fauna da Serra do Mar, beneficiando também as reservas governamentais próximas. Está adquirindo novas áreas e reflorestando-as para conectar suas florestas ao Parque Estadual dos Três Picos, aumentando a possibilidade de manter saudáveis as nascentes da bacia do rio Guapiaçu e os processos evolutivos e ecológicos que dependem de grandes áreas contínuas. A Regua localiza-se no município de Cachoeiras de Macacu. O nome diz tudo – é a fonte de água que abastece as cidades vizinhas e, em um futuro próximo, também a cidade do Rio de Janeiro.
 

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