Rodada climática de Bonn começa com péssimas notícias


Diplomatas de 200 países, reunidos em Bonn, na Alemanha, desde segunda-feira (6/6), são obrigados a encarar a realidade do recorde de emissões de gases do efeito estufa em 2010 e o fato de que o prometido financiamento para a mitigação e adaptação ao aquecimento global até hoje não saiu do papel. O encontro parece ser um dos mais difíceis já realizados pela ONU. Isto porque a falta de ações mais concretas para lidar com as mudanças climáticas está começando a ficar , com a divulgação de dados alarmantes sobre emissões, preço dos alimentos e falta de financiamento que não podem mais ser disfarçados ou ignorados. A rodada de Bonn vai até o dia 17/6 e é a última antes da grande Conferência do Clima de Durban (COP-17).

Na semana passada, a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou um relatório que demonstra que as emissões de gases do efeito estufa chegaram a 30,6Gt em 2010, um recorde histórico. Um dos significados desse número é que a queda nas emissões registrada em 2009 não foi fruto de ações climáticas, mas da simples retração na produção industrial por causa da crise econômica.

“Depois de quase duas décadas de negociações com o objetivo de limitar as emissões, nós ainda assim temos que encarar que elas estão subindo e alcançando níveis recordes”, disseram decepcionados Antônio Lima, embaixador de Cabo Verde e Pa Ousman Jarju, líder do bloco dos países menos desenvolvidos.

A ONG britânica Oxfam também apresentou um estudo importante, no qual afirma que os preços de alimentos básicos devem mais do que dobrar em 20 anos. Até 2030, o custo médio de colheitas consideradas chave para a alimentação da população global vai aumentar entre 120% e 180%. Pelo menos metade desse aumento seria relacionada às mudanças climáticas.

Para finalizar a lista de péssimas notícias, o World Resources Institute (WRI) avaliou as promessas e ações de financiamento climático dos 21 países mais desenvolvidos do mundo e mostrou que pouca coisa saiu do papel. Dos US$ 30 bilhões prometidos há 18 meses na Conferência do Clima de Copenhague, apenas US$ 12 bilhões já foram previstos de verdade nos orçamentos dos governos e desses somente cerca de 30% foram liberados.

“Estamos abatidos diante dos impactos negativos das mudanças climáticas. Os países mais vulneráveis estão sob grande pressão, tanto do clima quanto da pobreza. O dinheiro do financiamento deve começar a ser distribuído o quanto antes para ajudar pessoas na Ásia, África e América Latina”, afirmou ao jornal britânico The Guradian um negociador que não quis se identificar.

Entraves

Apesar de todos esses fatores indicarem que é hora de união e mobilização, pouco se espera da rodada de Bonn. Muitos países importantes estão enfrentando situações que não favorecem que este seja um momento de generosidade. Diversas nações europeias, como Espanha, Portugal e Itália estão enfrentando crises econômicas, que já refletiram nas políticas de subsídios para energias renováveis e que provavelmente vão levar ao aumento de emissões.

Outros países, como Japão e Alemanha, estão revendo sua política energética em virtude do desastre na usina nuclear de Fukushima. A tendência é que a utilização de energia nuclear seja reduzida progressivamente, levando também, em um primeiro momento, ao aumento das emissões.

Já nos Estados Unidos o problema é a divisão sobre que importância dar ao aquecimento global. Tentativas de leis climáticas não conseguiram ser aprovadas e as inciativas de mercados de carbono ainda enfrentam muitos obstáculos. O mais promissor deles, o da Califórnia, pode ficar na geladeira mais um ano.

Para piorar ainda mais a perspectiva de avanços em Bonn, existe o grande racha com relação ao Protocolo de Quioto. Durante o último encontro dos países integrantes do G8, Estados Unidos, Canadá, Rússia e Japão afirmaram que não assinarão a extensão do tratado. Por sua vez, o bloco do BASIC, formado por Brasil, África do Sul, Índia e China, também se reuniu e decidiu defender uma posição unida pela extensão do Protocolo.

Assim, a rodada de Bonn tem tudo para ficar estagnada por causa do conflito entre países ricos e emergentes. Cumprindo o que talvez seja o seu papel, a presidente da UNFCCC, Christiana Figueres, se disse otimista para o encontro. “Eu vejo duas tendências encorajadoras. Países, incluindo as maiores economias, estão promovendo políticas de baixo carbono, mesmo que não as estejam rotulando de ‘climáticas’. A outra linha vem da iniciativa privada, que cada vez mais está interessada em participar da nova economia verde e da geração limpa de energia.”

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