Sudão, palavra árabe usada pelos geógrafos muçulmanos ao descreverem “a terra do negros”, é um exemplo clássico de como a interferência dos colonizadores europeus e seus interesses econômicos descaracterizaram completamente o continente africano levando muitos países a um caos do qual não conseguiram se erguer até hoje.
A África sofre um dilema provocado pela colonização européia: formaram-se colônias que englobaram diversas tribos e etnias. Quando da descolonização as fronteiras herdadas do período colonial foram mantidas. Assim a maioria das nações africanas são multiétnicas e muitas etnias estão espalhadas por vários países como é o caso dos haisas que se espalham do Sudão à Costa do Marfim com maior concentração na Nigéria.
O Sudão não foge à regra. É formado por duas regiões bem distintas e várias etnias conflitantes. O sul, com 20% da população e 25% do território é formado por florestas, savanas e pântanos e habitado por africanos negros não islamizados, que na maioria são das etnias dinka, nuer, shelluk e azende praticando cultos étnicos tradicionais. O norte é árido, na grande maioria islâmico e culturalmente árabe, embora haja muitas etnias e tribos e a população descendente em grande parte dos Nubios, Bejas, Hausas e outros povos de pele negra, alguns dos quais falam língua própria.HISTÓRIA
O Egito anexou o Sudão em 1820, mas em 1879 os britânicos intervieram no Egito e o Sudão tornou-se colônia inglesa. Quando o Egito com, Gamal Abdel Nasser, recuperou sua independência, os britânicos deram independência ao Sudão (1956), mas o Sul rebelou-se e lutou até obter autonomia em 1972 o que deu à região 10 anos de paz.
Em 1983 o presidente do Sudão Gasfar Nimeiry rompeu o acordo ao transformar o Sudão em república federativa, dividiu o sul em vários estados e impôs leis de caráter islâmico em todo o país. O sul novamente se rebelou sob a liderança do coronel Garang e a guerra civil reiniciou.
Em 1989 assume através de um golpe o Gen. Osmar Albashir, até hoje no poder no Sudão. Al-Bashir perseguiu oposicionistas, convidou Osama Bin Laden a se estabelecer no país e aprofundou a ofensiva no sul anexando a maior parte do território. Mas o sul de Garang conseguiu o apoio internacional que isolou o governo de Al-Bashir.
Nos anos 2000, pressionado pelo isolamento internacional Al-Bashir procurou apaziguar o Ocidente e fazer um acordo com o sul. Em 2005 negociou um acordo em Nairóbi que devolveu a autonomia ao sul e marcou um plebiscito sobre a separação em seis anos, realizado em janeiro de 2011. As regiões petrolíferas, situadas na área limite entre sul e norte seriam partilhadas. O governo Obama ofereceu a Al-Bashir retirar as sanções que pesam contra o país e perdoar parte da dívida se o compromisso for cumprido.
O plebiscito, realizado em janeiro deste ano teve comparecimento de 96% da população com vitória esmagadora dos partidários da autonomia do sul.
Encerra-se assim uma luta que deixou quase 2 milhões de mortos, a maioria civis. Houve sim um genocídio no Sudão mas o clima de permanente conflito não deve terminar com a separação. O fundamentalismo islâmico vê a separação como uma vitória do ocidente, no norte do Sudão lideres religiosos alegam fraude no plebiscito e dizem que a separação do sul é parte do plano do ocidente de enfraquecer o mundo islâmico.
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