PANTANAL: NASCENTES E RIOS AMEAÇADOS

IBAMA diz não ter condições de reverter assoreamento do Rio Paraguai

ESTUDO INÉDITO ENGLOBANDO BRASIL, BOLÍVIA, PARAGUAI E ARGENTINA APONTA ÁREAS QUE PRECISAM DE MAIS ATENÇÃO PARA GARANTIR A SOBREVIVÊNCIA DA MAIOR PLANÍCIE ALAGÁVEL DO PLANETA.

A conservação da Bacia do Rio Paraguai e a sobrevivência do Pantanal estão ameaçadas, principalmente pela degradação das nascentes e barramentos de rios que fluem de áreas do planalto (Cerrado) para a planície pantaneira.
Metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco ambiental, sendo que 14% dela necessita ser protegida com urgência, por sua capacidade de fornecer água e manter os ciclos de cheias e vazantes que dão vida ao Pantanal. Essas áreas estão majoritariamente em porções elevadas nas bordas da bacia e são as maiores fornecedoras de água à planície, área que ainda apresenta boas condições ecológicas.
“Conhecendo a saúde do Pantanal podemos nos antecipar a problemas futuros, como o das mudanças climáticas. Mas a saúde pantaneira está ameaçada por ações em curso, no presente”, ressaltou Glauco Kimura, coordenador interino do Programa água para a vida do WWF – Brasil.
As principais ameaças à Bacia do rio Paraguai são o desmatamento e o manejo inadequado de terras para a agropecuária, causadores de erosão e sedimentação de rios. Barramentos hidroelétricos também estão alterando o regime hídrico natural do Pantanal. O crescimento urbano e populacional é seguido por mais obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias, colocando em risco o frágil equilíbrio ambiental pantaneiro.
Apenas 11% ( ou 123.600 Km) da bacia estão protegidos de alguma forma, e meros 5% (56.800 KM) sob proteção integral, em parques nacionais ou estaduais e estações ecológicas.  Além disso, as mais de 170 áreas protegidas não estão distribuídas de forma adequada para proteger as regiões que mais fornecem água, ou as mais ricas em biodiversidade.
O estudo realizado em parceria pelo WWF, The Nature Conservancy e Centros de Pesquisas do Pantanal, é um forte alerta para que países, estados e municípios adotem uma agenda de redução de riscos e revertam modelos insustentáveis de desenvolvimento. Não há mais espaço para uma cultura de abundância e de desperdício, como se houvesse um estoque infinito de florestas nativas para derrubar, de água onde lanças poluentes e de terras para mineirar.
A Bacia do rio Paraguai e o Pantanal não devem ser protegidos apenas pelas incontáveis espécies de animais e plantas lá abrigados, pelas belezas e serviços ambientais que oferecem, mas também porque da saúde regional dependem mais de oito milhões de pessoas e economias hoje focadas em 30 milhões de cabeças de gado e quase 7 milhões de hectares plantados, área equivalente a um terço do estado de São Paulo.
O Pantanal, além de tudo isso é uma preciosa reserva estratégica de água doce, ainda mais importante frente ao futuro incerto das mudanças climáticas.
Logo, alterar modelos de desenvolvimento e criar mais áreas protegidas, especialmente em regiões de cabeceiras, são ações inteligentes e estratégicas para os quatro países responsáveis por sua manutenção, bem como desenvolver uma agenda de adaptação da bacia às alterações do clima.
Deve-se olhar com maior apoio técnico e econômico para melhores práticas da pecuária extensiva. Nas plantações o uso de agrotóxicos, venenos que chegam aos rios que abastecem o Pantanal devem ser eliminados.
No caso das hidroelétricas em operação, o caminho é implantar esquemas de operação que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, é necessário avaliar seus impactos cumulativos nos rios e na bacia, apontando quais áreas poderão ou não arcar com esses custos ambientais sem prejudicar o pantanal.
 

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