Os números a seguir foram extraídos do livro “A Ferro e Fogo”, de Warren Dean (Companhia das Letras, 2010).
No que se refere à exploração do pau-brasil:
“Os tupis (…) tiravam-lhes a casca e a cortiça e cortavam os troncos em seções menores. Pesando estas de 20 a 30 quilos, podiam ser carregadas nos ombros por certa distância até os atracadouros.”
“(…) d. Manuel [rei de Portugal] entregou a exploração da nova colônia a um grupo de comerciantes, que deviam despachar pelo menos seis navios por ano para extrair pau-brasil e o que mais pudessem encontrar. Nisso foram diligentes: consta que, nos primeiros anos, coletaram cerca de 1200 toneladas/ano.”
“Em 1588, 4700 toneladas de pau-brasil passaram pela aduana portuguesa, talvez metade do verdadeiro volume.”
“(…) um cronista de meados de 1550 relatou ter observado 100 mil pedaços de tronco estocados na colônia francesa do Rio de Janeiro. (…) Em conjunto, todos esses negociantes podem ter provocado a extração de 12 mil toneladas por ano.”
“Considerando que em volume médio anual de 8 mil toneladas no século XVI implicava corte, carreto, estocagem e transporte em chatas de cerca de 320 mil seções de 25 quilos cada, vários milhares de indígenas teriam sido empregados na exploração. Calcula-se que esta tonelagem exigiu a derrubada de aproximadamente dois milhões de árvores durante o primeiro século do tráfico. (…) Se acrescentarmos 20% de desperdício por essas e outras perdas, e se imaginarmos que o pau-brasil era de incidência média nas baixadas costeiras, digamos de quatro exemplares por hectare com um diâmetro de 50 centímetros, em ponto de cortar, então o comércio de pau-brasil, somente no primeiro século, afetou 6 mil quilômetros quadrados de Mata Atlântica.
“Os apelos de [Manuel da] Nóbrega foram ouvidos (…) para esmagar toda a resistência tupi nas baixadas em volta do Rio de Janeiro, desde a baía de Angra dos Reis até Cabo Frio. Consta que uma ofensiva de seis anos sobre o planalto paulista (…) destruiu 300 aldeias, matando ou capturando seus habitantes, que chegavam a 30 mil. (…) No colapso que se seguiu, os indígenas desesperados por comida vendiam seus filhos e até a si mesmos para a escravidão.”“Ao longo da costa de São Vicente a Cabo Frio, onda após onda de doenças devastaram os tupis; em 1600, estavam reduzidos a uns quatro ou 5 mil, um declínio assustador de 95% em um século.”
“A população do Brasil sob controle português em 1600 pode ter chegado a menos de 65 mil. Menos de 10 mil desses residentes eram europeus ou mestiços. Sua área de ocupação efetiva pode ter se estendido por 16 mil km2.”
No que se refere ao plantio de cana-se-açúcar.
“Pode-se calcular que até 1700 (…) os campos de cana teriam eliminado uns mil km2 de mata atlântica. (…) Cerca de quinze quilos de lenha eram queimados para cada quilo de açúcar produzido, o que daria a média de 210 mil toneladas de matas secundárias e florestas de manguezais de enseadas cortadas anualmente para esse fim. (…) Calculando-se duzentas toneladas de lenha por hectare, as moendas teriam consumido mais de 1200 km2 no curso de 150 anos. (…) na metade do século XVII, os fazendeiros de açúcar da Baía da Guanabara queixavam-se de escassez de lenha.”
No que se refere à mineração.
“De 1700 a 1800, 1 milhão de quilos de ouro foram oficialmente registrados e talvez outro milhão tenha escapado ao fisco real. Cerca de 2,4 milhões de quilates [480 quilos] de diamantes foram extraídos, segundo registros oficiais e uma quantia adicional desconhecida e incalculável foi contrabandeada.”
“(…) a força de trabalho empregada no ouro e diamante, no curso do século, deve ter chegado em média a cerca de 100 mil, incluindo os garimpeiros, de sorte que cada trabalhador teria escavado, irrigado, dragado e bateado modestos duzentos m3 por ano.”
“O teor de ouro dos minérios, em geral, era de 21 a 22 quilates, mas os minérios de qualidade inferior eram amalgamados com mercúrio. Esta fonte de poluição não tem sido investigada por historiadores ou cientistas. As quantidades de mercúrio que podem ter sido extraídas ou importadas e a quantidade que pode ter sido empregada e espalhada pelos solos dessa região Mata Atlântica no curso de um século são, por isso, hipotéticas mas, a julgar pelas práticas correntes e ainda muito primitivas da Amazônia, pode ter chegado a cem toneladas, supondo-se que não mais de 10% do minério extraído fosse beneficiado dessa maneira – com que efeito sobre a biota?”
“A descoberta de ouro e diamantes aumentou muito a população neo-afro-européia da Mata Atlântica. Em 1880, totalizava cerca de 1.800.000 indivíduos, tendo se multiplicado seis vezes durante o século, um crescimento anual de cerca de 1,8%. (…) Os neo-afro-europeus podem ter ocupado na época 90 mil km3 do segmento sudeste da Mata Atlântica, de Paranaguá [PR] até Caravelas [BA].”
“Os garimpeiros de ouro e diamante comiam carne de boi. (…) O sistema de pecuária era extraordinariamente improdutivo. Pasto nativo degradado e pasto convertido permitiam apenas um rebanho muito ralo, provavelmente não mais que uma cabeça para cada 2 a 5 hectares. (…) Em 1808, um ano no qual os fazendeiros, estimulados pelo livre comércio, podem ter vendido uma cota invulgarmente grande de seus rebanhos, o Rio de Janeiro exportou 450 mil peles. Essa quantidade sugere a exploração de pelo menos 36 mil km2 de pastagens [600 x 60 km contínuos].”
“O terceiro século de invasão européia da Mata Atlântica reduziu consideravelmente sua extensão. A mineração, a lavoura e a engorda de gado no sudeste podem ter eliminado, durante o século XVIII, outros 30 mil km2. Tão ampla, completa e irreversível havia sido a eliminação da floresta em Minas Gerais durante o século XVIII que Karl Friedrich Von Martius, o mais famoso dos botânicos acolhidos no Brasil nos anos de 1810, foi levado a supor que a região do ouro e do diamante, a sudoeste de Minas Gerais,e a região nordeste da cidade de São Paulo nunca haviam tido floresta mas eram constituídas de campos gramados nativos.”
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